A Estação George Oetterer: História, Mudanças e Abandono em Ipero

Conheça a história da Estação George Oetterer, inaugurada em 1876 como Villeta, renomeada em 1908 e hoje símbolo da memória ferroviária em Iperó e Sorocaba.

A Estação George Oetterer: História, Mudanças e Abandono em Ipero
Estação George Oetterer, antiga Villeta, na Estrada de Ferro Sorocabana em Iperó, próximo a Sorocaba.

Histórico da Linha

A Estrada de Ferro Sorocabana (EFS) foi fundada em 1872, e seu primeiro trecho entrou em operação em 1875, chegando até Sorocaba.
Nos anos seguintes, a linha-tronco se expandiu progressivamente até atingir Presidente Epitácio, às margens do rio Paraná, em 1922.

Ao longo desse período, a ferrovia passou por diversas transformações:

  • Em 1892, foi fundida com a Companhia Ituana, que estava em crise.

  • Em 1903, o Governo Federal assumiu a linha.

  • Em 1905, a ferrovia passou ao controle do Governo do Estado de São Paulo, que a arrendou em 1907 ao grupo do empresário Percival Farquhar. Nesse processo, a Ituana desapareceu definitivamente, tendo suas linhas incorporadas.

  • Em 1919, diante da situação precária do grupo arrendatário, o governo paulista voltou a assumir a EFS.

Esse ciclo durou até 1971, quando a Estrada de Ferro Sorocabana foi incorporada à recém-criada FEPASA.

Com o passar do tempo, o trecho inicial — primeiro até Mairinque e, depois, reduzido a Amador Bueno — passou a atender principalmente os trens de subúrbio desde os anos 1920. A partir de 1994, já sob a CPTM, esse ramal ficou voltado ao transporte metropolitano.

Os trens de passageiros de longa distância circularam na linha-tronco até 16 de janeiro de 1999, quando foram definitivamente extintos pela concessionária Ferroban (sucessora da Fepasa).
Atualmente, a linha permanece ativa apenas para trens de carga.


A Estação George Oetterer (antiga Villeta)

O Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil registra a inauguração da estação de Villeta em 31 de dezembro de 1876, na mesma data da estação de Ypanema.

O nome Villeta tem duas versões possíveis de origem:

  • Pode ter sido inspirado em um episódio da Guerra do Paraguai, encerrada seis anos antes.

  • Ou pode ter derivado de uma fábrica de aguardente chamada Villetta, existente nas proximidades em 1877.

Em 1908, a estação recebeu o nome atual: George Oetterer, em homenagem ao Inspetor Geral da Estrada de Ferro Sorocabana no final do século XIX.

1908
ACIMA: A notícia publicada em 24 de novembro de 1908 no jornal O Estado de S. Paulo mostra em ato oficial a autorização para a mudança do nome da estação de Villeta para Jorge Oetterer. (O Estado de S. Paulo, 24/11/1908).


1915
1915, a estação de George Oetterer ficava no município de Campo Largo de Sorocaba, hoje Araçariguama: "Dista (a sede) da estação 11 km. Não há serviço regular de transportes. Em Campo Largo existem dois trolys que vão à estação quando pedidos com antecedência" (Almanach para 1916 de O Estado de S. Paulo).


1927
AO LADO: Notícia sobre a estação de Villeta já com o novo nome de George Oetterer — veja que nesse ano (1927) a estação ganhou novo prédio com a duplicação da linha. (O Estado de S. Paulo, 9/4/1927).

No ano de 1927, com a retificação e duplicação da linha, a estação ganhou um novo prédio. Ela ficava ao lado da vila ferroviária, próxima ao bairro rural que também passou a se chamar George Oetterer, em Iperó.

OBRAS OCORRIDAS NA ESTAÇÃO E SEU PÁTIO DE ACORDO COM RELATÓRIOS DA EFS:
1934 – Construção de rancho para a turma.


Memórias da Comunidade

Relatos preservam a memória afetiva da estação. O morador Daniel Gentili recorda os anos 1950:

“George Oetterer nos anos 1950 era um lugar com poucas casas, uma oficina de caminhões da EFS onde meu tio trabalhava e praticamente mais nada. Mas havia sempre o chefe e o telegrafista. O som do telégrafo, mais de 60 anos depois, ainda soa na minha memória: ‘blein’... Era um aparelho com duas teclas e um mostrador, que funcionava em código Morse. Eu tinha apenas 6 anos de idade.”


O Declínio da Estação

Na década de 1990, a estação ainda estava de pé, mas já fechada, sendo usada apenas para embarque e desembarque.
Em 1998, ainda era possível vê-la íntegra, cercada pelo acampamento ao sul da linha e pela vila ao norte.

Entretanto, em 2001, já estava em estado avançado de abandono.
E, em 2014, a antiga estação encontrava-se depredada e sem telhas, aguardando o fim definitivo de sua estrutura histórica.


ACIMA: Os limites do mapa são os limites da Fazenda Ipanema no ano de 1928 (CLIQUE SOBRE O MAPA PARA VÊ-LO EM TAMANHO MAIOR). A estação de George Oetterer não teve seu local alterado. Apenas derrubou-se a antiga e construiu-se a atual. O mapa mostra a linha velha (desativada na época) e a linha nova (a atual). (Serviço Geographico Militar, 1928).


ACIMA: Estação de George Oetterer, com o menino no balanço no galho da árvore - outros tempos, mesmo. "Quem aparece no balanço é meu primo. Quando pequeno, eu visitava com a minha avó esta família que morava em G. Oeterer, e com os meus primos na estação a gente apostava se o próximo trem vinha com locomotiva elétrica ou 'a fogo' e se o número de vagões era em número ímpar ou par" (Foto Luiz Simonetti; texto Daniel Gentili, data da foto 29/5/1949).


Beleza perdida – a família reunida sob a placa da estação em 1952. A imagem resgata não apenas um momento íntimo de união, mas também a vitalidade do bairro em seus anos dourados, quando a estação ainda era símbolo de progresso e ponto de encontro da comunidade.


Em 2014, a estação George Oetterer já se encontrava em estado de quase total destruição.
As paredes estavam depredadas, o telhado já havia sido removido e a estrutura, antes ponto de encontro de ferroviários e moradores, permanecia abandonada. O prédio, que já havia perdido a função décadas antes, passou a ser apenas um marco silencioso da decadência do patrimônio ferroviário da região.

Contexto

  • Nos anos 1990, a estação ainda era usada de forma residual para embarques e desembarques, embora já fechada administrativamente.

  • Em 2001, fotografias mostravam sinais de abandono, mas a construção ainda estava de pé.

  • Treze anos depois, em 2014, o cenário era de ruína: a cobertura desapareceu, janelas e portas foram retiradas, e pichações marcaram suas paredes.

Significado

O abandono da estação em 2014 representa não apenas a perda de um prédio histórico, mas também o apagamento de memórias coletivas ligadas à Estrada de Ferro Sorocabana e ao bairro George Oetterer. Muitos moradores ainda recordam os tempos em que o espaço pulsava com o som dos trens e da comunidade ferroviária.

Perguntas Frequentes sobre a Estação George Oetterer

Quando a estação George Oetterer foi inaugurada?

A estação foi inaugurada em 31 de dezembro de 1876, ainda com o nome de Villeta, acompanhando a expansão da Estrada de Ferro Sorocabana.

Por que o nome mudou de Villeta para George Oetterer?

O nome foi alterado oficialmente em 1908 como homenagem a George Oetterer, que foi Inspetor Geral da Estrada de Ferro Sorocabana no final do século XIX.

Qual a importância da estação para a região de Iperó?

A estação foi fundamental para o desenvolvimento do bairro e da economia local, servindo como ponto de circulação de trabalhadores, passageiros e mercadorias.

A estação George Oetterer ainda existe?

O prédio da estação entrou em abandono a partir da década de 1990. Em 2014, já se encontrava quase totalmente destruído, sem telhas e em ruínas.

Qual a memória mais marcante da estação?

Moradores lembram do som do telégrafo nos anos 1950, que marcava o cotidiano da vila ferroviária e ficou registrado na memória afetiva da comunidade.